sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Robledo, parte 5: reviravolta.

Igreja fechada. Que lástima. Dei mais uma volta em torno dela e nada. Por ali havia um fiscal de provas, largadão numa cadeira de praia.

- Hola! PoR favoR, sabes que horas a iglesia está abierta? Estoy aqui pelos dragones.

- Hola. Non, no dragones, a iglesia está cerrada.
- Yo sei, pero a que fecha estará abierta?
- Yo también no sei.

Derrotado, agradeci e perguntei como eu descia para o ponto, pois pegaria o ônibus para a estação de trem. A propósito, depois descobri que a estação de trem de Robledo não fica em Robledo, apesar de ter o mesmo nome. A estação fica num bairro chamado simplesmente de Estación.


Ele me indicou a rua, a escadaria por onde as bicicletas voavam. Mas fez um gesto, as mãos espalmadas para trás do corpo, próximas a cintura.


- Tienes que ir por la pared.


E aí eu entendi. As pessoas continuavam transitando pelas ruas, mas para não disputarem espaço com os competidores, iam se esgueirando pelas paredes...


Saí dali, ainda contrariado por causa da viagem perdida. Circundei a igreja e vi que tinha um carro da polícia perto. Eles tinham que saber quando ela abriria. Para a minha sorte, o guarda falava um pouco de inglês, mas também não sabia os horários. Muito atencioso, ele me deu a primeira peça do quebra-cabeça, e junto dela, os telefones da prefeitura (que eu já tinha) e do Sr. Cura, apontando para a igreja. Concluí que o Sr. Cura era o padre.


Achei curioso, coisa de cidade pequena mesma, e pacata. O policial tinha o número do padre no celular dele!!!


Agradeci e parti, disputando espaço cordial e pacificamente com as bicicletas.



Olhei a hora e ainda eram 12h05m. Tinha até 13h50m para estar no ponto, conhecer um pouco a cidade e almoçar. Parei algumas pessoas no caminho, turistas como eu e moradores. NINGUÉM sabia quando era possível ver as pinturas. O curioso é que não havia um morador que não dissesse já ter já visto os dragões... Desci até a praça, inconformado. De onde estava, teria que contorná-la, pois não era possível passar pelo cordão de isolamento. Passei na porta de uma casa, na beira da rua, onde havia uma senhora costurando, sentada nos degraus, do lado de fora. Parei ali perto para descansar. Sol forte, escadarias e mochila pesada nas costas.

Decidi abordá-la, e a conversa acabou comigo sentado do lado dela no degrau. Ela já tinha visto os dragões, e disse que inicialmente eram 36, mas já estavam em 71. Me afirmou que a barriga dos dragões eram as colunas da igreja, e que tinha vivido toda a vida ali sem jamais suspeitar daquelas pinturas. Também não sabia que horas era possível ver os bichinhos, mas se indignou quando eu disse a ela que a iglesia estaba cerradaComo assim? Hoje é domingo, meio-dia! Como pode?!, foi o que entendi da indignação espanhola daquela minha nova amiga, sofrendo por mim de uma forma rara de se ver hoje em dia.


Mas as surpresas de Robledo ainda estavam por vir.


Ela me deu diversas orientações, dicas, e falou mais uma vez no padre, o enigmático Sr. Cura. Falou de um bar chamado Astúrias, e muitas outras coisas, das quais eu (MUITO infelizmente) já não me lembrava mais quando deixei os degraus da sua casa, agradecido e FELIZ por ter podido ter uma experiência daquelas, simples, agradável e pura, literalmente uma conversa num tom de lenda, sobre coisas antigas esquecidas pelo tempo, que só o povo de um pequeno povoado no meio da Espanha sabia. Eu não tinha visto (e não veria) os dragões, mas tinha sido bem recebido por aquela cidadezinha com um povo tão gentil. Ganhei meu dia ali.


- Muchas gracias - disse.
- A vós - foi a resposta da minha amiga costureira.

Parti para o tal do bar Astúrias, seguindo a indicação dela. Cheguei lá meio em transe pela curta e marcante experiência, sem saber o que procurar. Não é possível que o padre esteja aqui. Sem ter, ou saber o que perguntar, pedi informações sobre o ponto de ônibus para a estação de trem. Descobriria onde era e almoçaria na padaria. Faria hora lá até ir embora de vez de Robledo de Chavela.

Mas foi justamente chegando no ponto de ônibus que eu descobri que, mais do que o dia, eu tinha ganhado era na loteria.

Continua...

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