sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Robledo, parte 3: chegando lá.

Acordei de manhã e quase desisti. Que furada, pensei.

Parti para a estação de trem. Na mochila, roupas para, caso necessário, dormir e tomar um banho. Cheguei cedo e fiquei esperando. O trem não fica parado dois minutos na plataforma, e você tem que estar muito atento às placas e aos alto-falantes. Depois de entrar no vagão e sentar, me levantei e caminhei até a porta, pensando em sair, fazer um double check. Afinal, se fosse o trem errado, sei lá pra onde eu iria, nem como voltaria...

A porta fechou na minha cara, me negando qualquer ação.

Mas eu estava no trem certo, e fui até El Escorial, onde, numa troca rápida de trens no mesmo trilho, embarquei em direção ao meu destino final. O cobrador (não sei se o nome é esse, é aquele cara que carimba o seu bilhete dentro do vagão) me disse em inglês: Two stops. Duas paradas até Robledo.

Cheguei e a estação estava deserta. Eu e os fenos voando (só os fenos voavam, diga-se). Não havia um guichê aberto, onde eu pudesse pegar um folheto, informação, nada. Tudo cerrado. Pelo menos o nome estava certo, e a cara da estação batia com o que eu tinha visto na Internet. Não poderiam haver dois povoados com o mesmo nome.






Lembrava que havia um restaurante, de acordo com o mapa. Taí:


Era lá que eu conseguiria minhas informações, todas, com certeza. No restaurante havia três pessoas: a dona e dois caras. Perguntei sobre o baño e também sobre a igreja da cidade. A moça me metralhou em espanhol, e só entendi que havia una chica lá fora. Ela saberia me dar as informações. Optei por não perguntar de novo pelo banheiro, já que eu não tinha entendido da primeira vez mesmo...

Depois descobri duas coisas sobre esse restaurante. As pessoas da cidade ligam e marcam de ir lá, é uma espécie de point daquele bairro. E pelo jeito a comida é boa. Me arrependi de não ter almoçado ali.

Saí da estação e a vista era essa:


Desci uma ladeira e, no final dela havia o tal ônibus, um desses microbus. Dentro dele tinha um cara, o motorista, relaxando num dos bancos dos passageiros, e mais ninguém. Abordei-o em meu portunhol perfeito e o diálogo foi:

- PoR favoR, este autobus bai a Iglesia Asunción de Nuestra Señora en Robledo de Chavelllllla?
- Tu sei italiáno?
- Non, non sono, io sono brasiliáno...

Não podia responder assim, enveredaríamos pela língua de Dante e aí sim nada daria certo... e o tempo correndo...

- Non, soy brasileño e necessito ir a Iglesia Asunción de Nuestra Señora en Robledo de Chavellllla.

Ele me olhou meio carrancudo, disse que também não era dali, e não sabia. O que sabia era que havia DUAS igrejas. Uma subindo, do outro lado da encosta, apontou, e outra abaixo, no povoado, apontou de novo. Mas não sabia qual era qual, e que eu deveria me informar.

Lembrei do que tinha pesquisado, olhei os arquivos que tinha guardado no celular, tinha que ser a do povoado. Eu não tinha mapa impresso, só o do smartphone. Será que era aquele ônibus mesmo? Era. E entrei no collect mode, começando a fotografar qualquer coisa que me ajudasse a não me perder:





E esse aí de cima, colado no ponto do ônibus, era igual ao da Internet. Eu estava no caminho certo. Começaram a chegar outras pessoas, vindas de outros trens. No meu parco espanhol, confirmei que aquele ônibus passava no centro, perto da igreja, na Plaza de España. Como precisava de informações, disse que tinha vindo ver os dragões, e as pessoas ficavam felizes em ouvir isso. Atestei nessa hora, e em outras posteriores, que, assim como a reportagem contava, aquela era uma descoberta importante no país, e ainda mais naquele pequeno povoado.

Tu sei italiáno? Non, non sono, io sono brasiliáno..., e esse diálogo se repetiu muitas vezes na viagem...

Ressalto aqui que fui muito bem recebido na cidade, pequenina, simples, mas com moradores dispostos a ajudar e extremamente receptivos. Bem cidade do interior mesmo. E essa impressão de interior só ficaria mais acentuada com o passar do tempo.

Mas ninguém sabia se eu poderia ver os dragões, nem que horas eu poderia fazer isso, mas todos garantiram que a igreja estaria, sim, aberta naquele domingo. Um senhor passou, ouviu a conversa e disse que, pela hora, eu não veria mais nada, pois muitos grupos estavam vendo as pinturas, e não daria mais tempo. Eu já estava ali, arriscaria, mas pelo menos tinha descoberto que haviam grupos indo lá.

O motorista não deixou ninguém subir no ônibus até 11h22m, eu e todos os outros senhores e senhoras de idade que estávamos esperando. Quando embarcamos, todos no ônibus já sabiam que eu era brasileño e tinha ido ver os dragões.

E isso seria decisivo na história.

Continua...

Um comentário:

Sra. Confitê disse...

Pães peço caminho, João. :)